Imagine a seguinte situação: A Ordem dos Advogados do Brasil lança uma nota pública de repúdio ao escritor Machado de Assis. O motivo seria o tratamento pejorativo concedido ao personagem Bento Santiago, advogado carioca, na trama envolvendo uma suposta traição de sua mulher Capitu com seu melhor amigo. A OAB encaminha cópias da reclamação para a Academia Brasileira de Letras e apresenta uma ação judicial para suspender publicação e ordenar o recolhimento de todas as obras de "Dom Casmurro".
Parece absurdo, mas é exatamente isso que os militares, e algumas de suas associações, querem fazer com o personagem sargento Xavier da novela Morde & Assopra e uma cena da novela Insensato Coração - ambas da TV Globo.
Talvez seja complicado entender, mas novela, como o livro de Machado de Assis, é uma obra de ficção, e pode ou não ter alguma relação com a realidade.
“A obra televisiva (...) é ficcional e conta com licenças autorais a fim de bem desenvolver a trama a que se propõe”, defendeu magistrado em decisão. “Se assim não fosse, ocorreria indesejável censura, muito comum nos regimes de exceção”.
Afora a tentativa de censura, é a ditadura do politicamente correto e a mania de querer transformar qualquer obra cultural em um panfleto de boas condutas e de conteúdo moral típico das fábulas de Esopo.
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