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6 de jul. de 2008

De Geroni: o novo coronel

Espremida em algum lugar entre o Meio-oeste e o Planalto Norte de Santa Catarina, Calmon é uma cidade de apenas 4.012 habitantes (IBGE/2007) e 2.960 eleitores (TRE-SC/2006). Desde 2001, o pequeno município é administrado pelo prefeito João Batista De Geroni (PDT), um político pouco simpático no trato do dia-a-dia, mas muito admirado por sua população. Afinal, desde que tomou posse, ele tem imprimido uma política de pleno emprego.

Nem os adolescentes escapam. Através de convênios com os governos federal e estadual, tem realizado várias obras e empregado todo mundo na cidade, que tem idade e vontade de trabalhar. Ele não faz licitação, não contrata empreiteiras, nem importa mão-de-obra. Do engenheiro ao peão, todos empregados da Prefeitura são moradores da cidade.

É uma bolsa-escola, de R$ 100, melhorada. Mesmo com a extinção do programa Agente Jovem pelo governo do Estado, através de lei municipal, De Geroni (PDT) oferece oportunidade de trabalho que vai desde a monitor de informática até auxiliar de sala de aula. A molecada, entre 15 e 18 anos, pode fazer serviço de office-boy, secretária, fotógrafo e relações pública em meio período; e no outro frequenta a escola.

Calmon tem seu charme. Conhecida como "capital da hospitalidade", tem sua história ligada à Guerra do Contestado. Foi palco de batalhas e chacinas. É terra natal do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, que nasceu naquelas bandas quando era apenas um distrito de Porto União. A cidade ganhou sua emancipação política somente em 9 de janeiro de 1.992.

Admirador de Leonel Brizola
, De Geroni dirige a cidade com mãos de ferro. É centralizador, como Brizola, e está à frente de todas as decisões. Costuma sempre dizer "não", como todo bom coronel ou caudilho brizolista. Quando é para dizer "sim" e resolver os problemas de relacionamentos, a tarefa fica com a primeira-dama.

Sem-terras

Cerca de 200 famílias do MST
, no começo do ano passado, ocuparam uma terra à beira da SC-302, em Calmon, um contigente de novos moradores bastante expressivo, mesmo para a Capital da Hospistalidade. A fazenda já pertenceu à familiares do ministro Stephanes (PMDB-PR). Um coronel à moda antiga mandaria uma tropa de jagunços para expulsar os sem-terras.

De Geroni fez diferente
. Percorreu os gabinetes do governo do Estado e da Assembléia Legislativa em busca de ajuda para atender os visitantes. Além de remédios e material escolar, conseguiu apetrechos para procedimentos clínicos, como ataduras e luvas. Depois de um ano, os sem-terra se foram e os equipamentos ficaram.

PDT

Calmon é uma cidade em expansão. Nos últimos dez anos, a população da cidade cresceu em mais de 50%, e está entre as 15 que mais cresceram em SC. Enquanto isso, o eleitorado de Calmon evoluiu 30% entre 2000 e 2006, ficando em terceiro lugar no Estado.

Na cidade, por medo, adesão ideológica, interesse ou necessidade, todos são pedetistas desde que nasceram. O PDT é o partido que mais tem filiados em Calmon. São 279 pedetistas, contra 151 do PMDB e 122 do PT. E o partido do velho Brizola tem quase três vezes a mais o número de jovens filiados (entre 16 e 24 anos) que todos os outros partidos juntos. São 62 contra 24.

O senador pedetista Cristóvam Buarque
recebeu em Calmon o maior número de votos proporcional em todo o país, no primeiro turno da disputa presidencial. O mesmo ele não conseguiu fazer com o companheiro Manoel Dias. Em compensação, no segundo turno, Calmon foi o município catarinense com o maior percentual de votos nulos para governador no Estado, com 13,09%. Não será espanto se ele eleger o próximo prefeito, Joacir Santos Trindade, presidente da Câmara de Vereadores e também pedetista.

Eleitoralmente
, o projeto de João Batista era se eleger prefeito de Caçador, cidade pólo da região (com 47.822 eleitores) e sede de secretaria regional. O próximo passo seria a eleição para deputado estadual. A primeira etapa foi abortada. Ponto pra De Geroni. Porque prefeitos de cidades periféricas têm se dado mal quando resolvem cair de pára-quedas em cidades maiores. (Estou falando da Operação Moeda Verde.) Mas a segunda fase de seu projeto ainda lhe inspira os dias e as noites.

Para isso, vai ter que transformar a fama de bom administrador de uma pequena cidade em votos, muitos votos, e conseguir bater os partidos tradicionais da região. Vai torcer por uma vitória de seu indicado a prefeito de Calmon. Também vai torcer para o deputado estadual licenciado Dagomar Carneiro (PDT), que nasceu em Calmon e tem influência na cidade, se eleger prefeito de Brusque.

Mas nem tudo são flores
. De Geroni já teve suas contas rejeitadas pelo TCE (e quem não teve!?), e sofre a perseguição de procuradores ligados às questões trabalhistas. O município apresentou índices desfavoráveis em diagnóstico sobre a educação em Santa Catarina, ao lado de Matos Costa. Além disso, Calmon tem problemas de desmatamentos ilegais, promovidos por empresas produtoras de pinus.