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1 de set. de 2011

Audiência para discutir pauta dos servidores da segurança pública vira lavação de roupa suja

Pensada para discutir a pauta de reivindicação dos servidores da segurança pública, a audiência realizada na Assembleia Legislativa, na noite de quarta-feira 31/08, acabou em conflito. Pouco se discutiu sobre salários e plano de carreira.

O deputado-delegado Maurício Eskudlark foi quem deu o tom da mudança de rumo da audiência. Colocou o ponto de vista da categoria sobre a usurpação de função da Polícia Militar no âmbito da Civil. Mas coube ao presidente da Associação dos Delegados (Adepol), Renato Hendges, colocar o bode nada sala. Segundo ele, estão ocorrendo situações que colocam em confronto as instituições. "Não são casos pontuais. Todos os dias a Polícia Militar está fazendo ações fora de suas atribuições. Isso ainda vai acabar em tragédia", disse, sem deixar claro que isso é uma denúncia ou ameaça. "O que mais vê é desintegração das polícias", resumiu.

Hendges enumerou algumas ações que ele considera roubo de atribuições. Também citou casos de procedimentos preenchidos de forma errada. Ele prometeu fazer chegar até a Organização dos Estados Americanos (OEA) dossiê com supostos atentados à Constituição.

Incomodado com as denúncias contra a Polícia Militar, o presidente da Associação de Oficiais (Acors), coronel Fred Harry Schauffert, censurou o delegado Hendges por sua postura adotada na audiência e em outras manifestações públicas. “Os militares se sentem profundamente ofendidos. Ele poderia se dirigir à instituição de forma diplomática e através dos canais legais”, desabafou.

Schauffert não se conteve e afirmou que Hendges estava "achincalhando" oficiais e praças, aviltando as funções da PM e declarando guerra à sua instituição. "Se o delegado Renato não é inimigo da Polícia Militar, então não sei quem é nosso inimigo", criticou. "Ele tem a solução para o problema da segurança pública: prender todos os oficiais".

O ponto alto foi quando o coronel, da Acors, chamou de "patifaria" as atitudes do delegado, da Adepol, que, em protesto, se retirou da audiência. Hendges, vez ou outra, aparecia na porta da sala para assistir a audiência. Até que não se conteve e voltou para compor a mesa.

As autoridades presentes fizeram os discursos de praxe sobre segurança pública: "Está tudo indo muito bem e vai melhorar".

Ficou claro que os representantes dos delegados não quiseram discutir uma pauta consensual para os servidores da segurança pública, afinal, entre todos, são os que melhores recebem, além de agir para afastar os oficiais, tanto em salários como em poder de polícia.

O assunto tomou os corredores da Assembleia no dia seguinte e logo vai tomar as redes sociais, em especial as redes reservadas de cada instituição.

O que assusta é a possibilidade de estar em prática uma fábrica de dossiês em cada polícia - e o que é pior: uma contra a outra.

Proponente e presidente da audiência, o deputado-policial Sargento Soares chegou a afirmar que a audiência, por envolver questões sensíveis, tinha tudo para dar errado. "E deu!".

Fico com o Barão de Itararé: "De onde menos se espera, daí é que não sai nada".